Posse na Academia

Tomou posse na Presidência da Academia Sergipana de Medicina no último dia 23 de abril de 2008 a Dra. Deborah Pimentel.
(Na foto ao lado, vê-se a nova Presidente ladeada pelo Dr. Gonzaga e à esquerda pelo Prof. Dr. Antonio Paixão, diretor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Sergipe).

A imortal e psicanalista Déborah Pimentel, fundadora e Presidente do Círculo Psicanalítico de Sergipe e a Vice-Presidente do Círculo Brasileiro de Psicanálise, foi reconduzida pelo segundo mandato consecutivo, à Presidência da Academia Sergipana de Medicina, mandato 2008-2010.

Déborah fez o seguinte discurso, que transcrevemos na íntegra:

DISCURSO DE DÉBORAH PIMENTEL, NA SUA POSSE, COMO PRESIDENTE DA ACADEMIA SERGIPANA DE MEDICINA
(Mandato 2008-2010)
Aracaju, 23 de abril de 2008


Autoridades presentes;

Caros confreiras e confrades deste Sodalício que generosamente confiaram ao nosso grupo, a presidência da Academia Sergipana de Medicina pelos próximos dois anos;

Meus familiares, em especial os meus pais Nazário e Elena Pimentel, sempre me estimulando a assumir novos desafios; Minha querida irmã Kátia e nossos lindos filhos: Roberta, Paula, Laiza e Felipe;

Meu companheiro Jansen;

Senhoras e senhores;

Queridos amigos,

Nada sabe de sua arte aquele que
lhe desconhece a história.
Goethe (1749-1832)

Por providência divina ou destino, em 1982, há quase 26 anos, eu concluía meu curso de Medicina e nem nos meus melhores sonhos eu poderia imaginar que algum dia estaria fazendo parte da Academia Sergipana de Medicina, ao lado de muitos dos meus ex-professores, que com suas presenças refletem a magnitude deste Sodalício.

No dia 14 de outubro de 2003, fui recebida aqui, na casa de Gileno da Silveira Lima, como o nosso Prof. Cleovansóstenes Pereira de Aguiar gosta de chamar a Academia Sergipana de Medicina. Aqui cheguei, não tenho dúvidas, graças a generosidade dos meus confrades, para ser a primeira ocupante da cadeira n. 34, cujo patrono é o Dr. Theotonílio de Oliveira Mesquita, em uma solenidade de muita pompa, presidida pelo Prof. Hyder Bezerra Gurgel, com a presença de pessoas queridas, e saudada pelo meu amigo querido, Prof. José Hamilton Maciel Silva. Um grande desejo aflorou em mim naquela ocasião: fazer jus e honrar aquele momento. Não tenho palavras para descrever as emoções daquela noite de gala. Foi a maior honraria que eu poderia em vida receber dos meus pares: reconhecimento.

Em 15 de março de 2006 fui a primeira mulher a assumir a presidência desta Academia, outro momento marcante da minha vida pessoal e profissional, quando rendi homenagens às mulheres que conseguem fazer história graças à sua capacidade de criação e atitudes que geram realizações e conquistas. Naquela ocasião saudamos as primeiras mestres e primeiras alunas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Sergipe.

Hoje, assumindo pela segunda vez consecutiva, a presidência desta casa, meu coração entra em júbilo. Não posso deixar de citar que a nossa diretoria foi conduzida para este segundo mandato, pela unanimidade dos confrades e confreiras reunidos numa Assembléia que surpreendeu a todos pelo número de presentes, o que torna a nossa responsabilidade muito maior. O sucesso da nossa caminhada que culmina com um segundo mandato deveu-se a uma equipe de trabalho coesa e consciente do nosso papel.

Neste segundo mandato trabalharemos novamente com os confrades Cleovansóstenes Pereira de Aguiar, José Hamilton Maciel Silva, Lúcio Antônio Prado Dias, William Eduardo Nogueira Soares e Petrônio de Andrade Gomes, com quem eu tive a felicidade de contar nos últimos dois anos e a quem, rendo tributos, tal a minha gratidão. Faço menção especial ao confrade Lúcio Antônio Prado Dias, homem generoso para com os seus colegas, um grande amigo de todos na diretoria e serve a esta casa com muita fidalguia, motivação e energia, facilitando as tarefas de todos e engrandecendo o bom nome desta Academia. Também fazia parte desta diretoria na primeira gestão deste grupo, os confrades Antonio Samarone e Marcos Ramos a quem muito devemos pelas suas contribuições, mas que se afastaram para colaborar como secretários municipais na SMTT e Secretaria da Saúde respectivamente. A eles também presto o meu agradecimento.

Por força do nosso Estatuto, o número de participantes no quadro da atual diretoria é pequeno, entretanto todos os confrades são importantes para mim e para a Academia, e os convoco a participar e contribuir para a boa CONSOLIDAÇÂO dos nossos trabalhos. Aliás, CONSOLIDAR foi o nome da nossa chapa. Segundo os dicionários da língua portuguesa, esta palavra significa tornar consistente, fazer-se sólido e ratificar. O nosso grupo quer e promete solidificar e ratificar todas as proposições feitas na nossa primeira gestão e é nosso desejo trabalhar pelo bom nome, conceito e reputação desta casa que é a maior guardiã da memória da História da Medicina no nosso Estado.

A História da Medicina, está montada em um tripé que aponta para três grandes vertentes, a histórica propriamente dita, as questões filosóficas e a ética, que fundamenta a postura médica, regula suas ações e a humaniza.

É nossa meta, portanto, consolidar os propósitos que motivaram a fundação desta Academia por Gileno da Silveira Lima, que trazia consigo, o ideal traçado por Goethe acerca da importância de se conhecer a história daqueles que nos antecederam na arte que desenvolvemos e praticamos.

De acordo com o verbete do Dicionário Histórico dos Médicos de Sergipe que está sendo cuidadosamente preparado por esta Academia, sob a organização de Antonio Samarone, seu idealizador, e dos confrades Lúcio do Prado Dias e Petrônio Gomes, Dr. Gileno da Silveira Lima nasceu em 3 de abril de 1920 em Cachoeira, Estado da Bahia. Filho de Genésio Fernandes Lima e Domecília da Silveira Lima, formou-se pela Faculdade de Medicina da Bahia em 1944. Clinicou inicialmente em Laranjeiras. Transferiu-se para Aracaju, onde passou a atuar também no setor bancário, industrial e comercial. Foi presidente da Associação Comercial de Sergipe e Diretor do Hospital Santa Isabel, onde fez uma grande e transformadora reforma. Foi Diretor do Serviço de Saúde e Higiene do Trabalho do SESI; Secretário de Medicina Social do INAMPS; Pró-Reitor de Administração da UFS e Delegado Federal do Ministério da Saúde. Foi também prefeito da nossa linda capital Aracaju por 4 meses.

Dr. Gileno, idealizador e fundador desta entidade, recebeu, por ocasião do nascimento desta casa, o suporte e o estímulo do seu primo Geraldo Mílton da Silveira, que era, naquela ocasião, o presidente da Academia de Medicina da Bahia, e de um seleto e especial grupo de médicos que o cercou na primeira hora: Cleovansóstenes Pereira de Aguiar, Alexandre Gomes de Menezes Neto, Hugo Gurgel, Lauro Porto, Osvaldo Souza, José Leite Primo, entre outros. A seleção dos primeiros médicos que aqui chegaram aconteceu graças a um amplo consenso interpares e não mediante candidaturas individuais. Também foi graças ao livre arbítrio dos fundadores, que os nomes dos patronos foram indicados em uma única e rara oportunidade de dar visibilidade e imortalizar quem lhes antecederam.

Dr. Gileno comandou, portanto, o processo de fundação da Academia Sergipana de Medicina, e tornou-se seu Presidente de Honra sendo homenageado também pela Federação Brasileira das Academias de Medicina com a Medalha de Honra ao Mérito Médico Nacional. A Academia Sergipana de Medicina que teve como primeiro presidente meu professor, Dr. Cleovansóstenes Pereira de Aguiar, nasceu gigante e poderosa, graças a escolha dos nomes que a fundaram e dos patronos das nossas 40 cadeiras, símbolos do melhor exemplo hipocrático. Em 1999, passou a ser integrante da Federação Brasileira de Academias de Medicina - FBAM - na ocasião presidida pelo Acadêmico Waldenir de Bragança e, reconhecida, pela Prefeitura de Aracaju, dois anos depois, como Instituição de Utilidade Pública. Estava ratificada e concretizada definitivamente a importância daquela feliz iniciativa e fundação, um sonho e uma aposta do Dr. Gileno.

No Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, Academia é referida como sendo a Escola criada por Platão em 387 a.C., situada nos jardins consagrados ao herói ateniense Academus, e que, embora destinada oficialmente ao culto das musas, teve intensa atividade filosófica.

As Academias de Medicina são sociedades de homens sábios e cultos e uma reserva de exemplos éticos e de retidão moral que alenta como um bálsamo aqueles que ainda crêem em uma prática médica humanista.

Nunca fomos tão desvalorizados pela mídia e população em geral, quanto nos tempos atuais, o que nos parece, em um relance, paradoxal, haja vista o nosso vasto conhecimento e o grande avanço das ciências e da tecnologia. Entretanto, os médicos têm visto o seu trabalho ser desqualificado e mal remunerado, principalmente pelas seguradoras que terceirizam esta mão de obra. Paralelo a isso, existe uma franca promiscuidade entre colegas e as indústrias farmacêuticas e de equipamentos que os corrompem com presentes, viagens e até mesadas, pondo em cheque a credibilidade destes médicos que prescrevem pensando no próprio bem estar e não em defesa da qualidade dos serviços que ele prestam aos seus pacientes, ferindo um princípio básico da ética médica.

A classe tem sido freqüentemente denunciada e alvo de inúmeros processos por erros médicos, resultados de má prática, parte por falta de capacidade e habilidades técnicas por conta de formações insuficientes, parte por negligência, pois afinal, consultas de dez minutos não atendem aos preceitos de uma boa clínica, e parte pelo mau relacionamento entre médicos, pacientes e seus familiares.

Importante fazer um parêntese e anunciar, que já está tramitando no Senado, na mão do Senador Augusto Botelho, escolhido como relator pela Comissão de Assuntos Sociais, um Projeto de Lei do Senado, de autoria da senadora sergipana Maria do Carmo Alves, que atende as expectativas de 280 mil médicos brasileiros e trata-se de um anseio antigo do Conselho Federal de Medicina, e que não foi divulgado como merecia, pela própria categoria médica, às vezes apática aos seus próprios interesses. O Projeto de Lei estabelece novas penas disciplinares para os médicos e seus argumentos foram inspirados no artigo que escrevi no Cinform online, intitulado Infelicitas Facti: erros médicos e punições, onde ressaltei as distorções das penas previstas desde 1957, no Código de Ética Médica, e que estabelece um fosso gigante entre uma suspensão de 30 dias e a cassação definitiva do diploma médico. Advoguei, portanto, que houvesse, tal qual há na Ordem dos Advogados do Brasil, penas intermediárias entre esses dois extremos.

A senadora Maria do Carmo Alves, na sua justificativa, concorda com nosso argumento e alega que a cassação permanente de um médico corresponde a uma verdadeira pena de morte profissional. Uma das alegações da senadora é que a ausência de penas intermediárias promove o corporativismo e favorece a impunidade. Ela conclui, com muita lucidez, que as sanções devem ser não apenas punitivas, mas essencialmente, também, educativas e reabilitadoras, permitindo o retorno do apenado à prática profissional uma vez que tenha sido comprovadamente reabilitado ética ou tecnicamente.

Tornar-se Acadêmico, portanto, significa, que na sua prática, o médico é reconhecido pelos seus pares como alguém capaz de compreender as pessoas além da doença, é um humanista, desperta confiança nos seus pacientes e sabe da importância do ato médico, das suas atitudes e do uso generoso e milagroso das suas palavras. Não é necessário ser um escritor ou ser poeta para chegar até esta casa, mas ser um mestre na arte do bom relacionamento e das boas práticas médicas pautadas na ética. Para ser considerado como um bom médico, não é o bastante ser excelente técnico e detentor de um saber atualizado das ciências, pois o que a maioria dos nossos pacientes precisa é, também, de conforto e calor humano, capazes, não duvidem senhores, de mitigar sofrimento e dor.

Neste momento instala-se a 7ª diretoria desta casa e o 6º presidente. Os meus antecessores: Cleovansóstenes Pereira de Aguiar, José Hamilton Maciel Silva, Lúcio Antônio Prado Dias, Hyder Bezerra Gurgel e Eduardo Antônio Conde Garcia, nomes especiais e representativos para todos nós, são exemplos que reforçam a minha responsabilidade no sentido de honrá-los e de prometer a eles que conduzirei a Academia pautada nos seus ensinamentos e exemplos de sabedoria e entusiasmo, promovendo a história da Medicina e a ética de uma boa prática.

O físico Albert Einstein certa feita disse que "a mais bela e profunda emoção que se pode experimentar é a sensação do místico. Este é o semeador da verdadeira ciência. Aquele a quem seja estranha tal sensação, aquele que não mais possa devanear e ser empolgado pelo ENCANTAMENTO, não passa, em verdade de um morto". Portanto, senhores, só existem duas alternativas: ENCANTAR-SE ou morrer. Que as vicissitudes e os desafios que a cada dia nos chegam sejam elementos de motivação, mais sonhos, lutas, realizações, ENCANTAMENTOS.

Guimarães Rosa no seu discurso de posse na Academia Nacional de Letras disse que "as pessoas não morrem, elas ficam encantadas". Nosso querido Dr. Gileno, como diria Raul Seixas, não morreu e jamais morrerá, mas apenas despertou do sonho da vida em 5 de maio de 2006 no alto dos seus 86 anos bem vividos.

Invoquemos pois, caríssimos confrades e convidados, o espírito de Gileno da Silveira Lima, presidente de honra ad eternum desta casa, um verdadeiro imortal, ENCANTADO, motivado, dedicado e humano, exemplo para os que aqui estão e para aqueles que aspiram algum dia chegar à esta casa.

Concluo a minha fala dirigindo-me ao Dr. Gileno, a todos os presidentes que me antecederam, e aos nobres confreiras e confrades que me reconduziram à direção desta casa. Faço-lhes uma promessa, nascida do mais profundo da minha alma: envidarei todos os esforços e farei até mesmo o impossível, para jamais decepcioná-los.

Que Deus abençoe todos nós e a esta travessia que se avizinha.

Muito obrigada.


Cecília Nascimento, psicanalista do Círculo Psicanalítico de Sergipe, prestigiando a posse.


Também estiveram presentes Patrícia Aranda à direita, também psicanalista da instituição e Graça Araújo à esquerda, que faz formação no Círculo.